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O que vimos hoje nas ruas do país foi certamente uma manifestação de peso. Os números divergem, mas não há dúvidas de que muitos/as saíram para protestar e que a quantidade de pessoas foi maior do que no dia 13/03. A democracia é, em sua natureza, conflituosa e o que se percebeu em São Paulo, em Porto Alegre no Rio de Janeiro e nas demais cidades foi um coromajoritariamente conservador e de tom bem diferente da sexta-feira anterior.
Frases como “Prisão para o Karl Marx de Garanhus”, “O Dilma! Vai tomar no CÚ”, “Privatizem mais”, “S.O.S Intervenção Militar”, “Quem financia os invasores profissionais do MST?”, “Diga não à doutrina marxista nas escolas” e “Chega de doutrinação marxista. Fora Paulo Freire” foram empunhadas com orgulho. Ganharam destaque nas redes sociais e nos noticiários, exibidas junto com imagens aéreas da Avenida Paulista e comentaristas exaltados e excitados. Numa manifestação supostamente apartidária, a mídia funcionou como um verdadeiro partido político, ocupando sua função de difusora de ideologia.
A nova direita que se articula a partir das mobilizações se coloca como alternativa de poder, com o lema “é necessário ordem para ter progresso”. Para ela, não foram suficientes todas as medidas econômicas neoliberais tomadas pelos governos petistas na última década. Sua proposta é ir além: um modelo de democracia ainda mais restritivo aos direitos civis e à participação dos de baixo nas esferas de poder.
Negros e negras, mulheres, indígenas, homossexuais, trans* e os pobres não estão incluídos em sua pauta. Pelo contrário. O horizonte que se desenha é tenebroso, onde o fundamentalismo caminha de mãos dadas com o neoliberalismo em sua versão mais conservadora e autoritária – e, não se iludam, corrupta. As opções desastrosas de Dilma Rousseff tornam cada dia mais difícil a estabilidade do seu governo e o seu futuro é incerto.
O que sobra para a esquerda nesse cenário desalentador? União. É preciso que os setores mais progressistas se juntem em defesa da democracia como um valor e por reformas de base, contra o golpismo. “Por direitos e contra a direita”, propõe o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Uma importante iniciativa é a Frente por Reformas Populares, da qual participam movimentos como MTST, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CUT (Central Única dos Trabalhadores), Intersindical e partidos de esquerda. Diante da ausência de um projeto claramente à esquerda por parte do governo Dilma, que se esforça em implementar a política econômica ortodoxa de Aécio Neves ao mesmo tempo que vê erodir sua base política, deve-se ter na mobilização social o principal instrumento para conter o avanço conservador.
É necessário que a esquerda “saia do armário” e ocupe as ruas com suas pautas e bandeiras, colocando a luta ideológica e o combate de ideias no primeiro plano da tática. E que faça também a autocrítica.
* Fabio Nogueira é sociólogo, professor da Uneb (Universidade do Estado da Bahia) e militante do Círculo Palmarino.
(Da Carta Capital)

Fonte: SINPRO-DF

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Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

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