Aparecido nem se lembrava ao certo em que momento sentiu aquela necessidade íntima de ser […]

Aparecido nem se lembrava ao certo em que momento sentiu aquela necessidade íntima de ser famoso. Talvez tenha sido durante o almoço de domingo, com a família reunida e todos se divertindo com vídeos compartilhados no celular que mostravam pessoas em situações perigosas, engraçadas ou constrangedoras – os famosos memes.

Cidinho, como era conhecido entre familiares e amigos, logo associou que para se tornar famoso era necessário se tornar um meme. Nos anos seguintes, esse se tornou o objetivo que ele buscava. Reuniu os amigos e parentes mais próximos e roteirizou diversas situações engraçadas para compartilhar por vídeo nas redes sociais e no WhatsApp. As ideias eram inúmeras. Alguns sugeriram que Cidinho simulasse quedas em lugares públicos como shoppings centers, barzinhos e portas de baladas. Ele seguiu a sugestão; apesar da vergonha e de arrancar algumas risadas de quem estava por perto, os vídeos não viralizaram. E assim foi com várias outras situações: quando se vestiu de Gavião Arqueiro e foi para a porta do cinema; quando entregou flores à namorada cercado por uma banda de pífanos no trabalho dela; quando começou a fazer tutoriais na internet.

Alguns poucos vídeos até chegavam a ter uma boa repercussão, mas nenhum deles conseguiu viralizar. Cidinho ficou desanimado temporariamente pela falta de engajamento em seus vídeos e pelo descrédito de seus parentes, colegas e amigos. Contudo, um dia teve uma ideia que mudaria para sempre seu destino. Decidiu subir na antena mais alta de sua cidade e de lá estender uma faixa com os dizeres: “Paz no mundo”. Era um gesto nobre e pacifista, porém muito arriscado. Ele combinou com um amigo que ficou embaixo registrando tudo, enquanto ele, com um celular em punho, registrava a escalada em direção à fama. A viralização parecia certa. Fazer algo diferente associado a uma mensagem de paz era tudo o que precisava para receber uma boa resposta do público.

De fato, isso aconteceu. Não se sabe ao certo o que desencadeou o incidente, mas de forma irônica, um pombo defecou nos olhos de Cidinho enquanto ele escalava a torre, fazendo-o perder o equilíbrio e cair. O amigo filmou toda a cena. Até o momento, o vídeo da queda já alcançou mais de 20 milhões de visualizações no Youtube.

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Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

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