Em uma recente e bela produção audiovisual em homenagem a Dorival Caymmi, uma das entrevistadas […]

Em uma recente e bela produção audiovisual em homenagem a Dorival Caymmi, uma das entrevistadas revelou a tristeza do cantor e compositor baiano com algumas mudanças realizadas no Abaeté. Triste, Caymmi não mais quis voltar a visitar a lagoa e as dunas do Parque do Abaeté. Passados diversos anos, há hoje também insatisfações das comunidades e de coletivos, que defendem o Abaeté, que vivem sob risco de uma equivocada solução para problemas sanitários em seu entorno. Precisamos promover o saneamento básico e garantir a saúde das pessoas sem destruir a Lagoa.
Ao que parece, ao longo dos anos os poderes de diversas esferas, instituídos em nossa cidade, demonstraram pouca ou quase nenhuma preocupação com soluções ecologicamente corretas e humanizadas. Quanto ainda temos de dunas no Abaeté ou de matas do Parque São Bartolomeu? As pessoas que residem nos entornos da Lagoa do Abaeté e do Parque São Bartolomeu conseguem usufruir de suas belezas de forma justa e segura? Precisamos ouvir as pessoas e construir possibilidades de educação ambiental nas escolas de nossa cidade, que alertem nossas crianças e jovens, também, para os efeitos racistas de algumas decisões, que atentam contra o meio ambiente e a cultura negra.
Algumas pessoas devem estar se perguntando quais ligações existiriam entre as propositadas destruições da Lagoa do Abaete e do Parque São Bartolomeu, por exemplo, e o racismo. Talvez as ações antiecológicas e racistas, nos últimos tempos, tenham sido mais explícitas contra a importantíssima Pedra de Xangô, pois com sua descoberta segmentos pautados no ódio atentam abertamente contra este importante monumento cultural, religioso e ecológico. Salve a Pedra de Xangô! Entretanto, as ações racistas e destruidoras do ecossistema andam de mãos dadas, pois atacam ao mesmo tempo territórios ecológicos e com valores inestimáveis para a cultura afro-brasileira.
Precisamos construir alternativas, que pautem discussões e que promovam lutas de preservação ambiental em nossa cidade e de defesas dos diversos aspectos de nossas culturas, incluído a cultura negra da cidade mais negra fora do continente africano. Assentado na Câmara Municipal do Salvador, serei um dos vereadores representativos da defesa de nossos parques, de nosso ecossistema, do que ainda resta de nossa Mata Atlântica, das vidas das pessoas, das vidas das pessoas negras e de nossas diversidades.

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Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

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