A FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) através do Oficio CIRC. […]

A FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) através do Oficio CIRC. DIREG N° 010/2020, alegando ter sido provocada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE), encena mais um capítulo na lenta agonia e desmonte da pesquisa científica em nosso estado. Isso tudo não bastassem os constantes cortes nos repasses de recursos à pesquisa científica por parte do governador Rui Costa que, só no ano de 2017, representou a interrupção de 80% da pesquisa desenvolvida com recursos da FAPESB.

Pesquisas voltadas a estudar os efeitos do Zika vírus em bebês nascidos de mães expostas à doença, a relação entre o uso de anticoncepcional e os casos de trombose, entre outras de extrema relevância social, tiveram seus financiamentos reduzidos a zero. Nem mesmo o contexto atual da pandemia, em que nunca como antes se mostrou a importância do desenvolvimento de pesquisas em diferentes áreas, como especial atenção a área de saúde, parecem conter a política do governo Rui Costa de desmonte da FAPESB e da pesquisa científica de nosso estado.

Qual o objetivo do ofício da FAPESB senão o de constranger e cercear o desenvolvimento da pesquisa científica criando entraves e justificativas ainda maiores para o corte de bolsas de pesquisa em nosso estado? Em nível nacional, lutamos contra Bolsonaro e aqueles que propagam fake News contra Universidades e Centros de Pesquisa, defendendo “soluções milagrosas” e sem base científica como o uso da cloroquina no combate a pandemia do Covid-19.

Não bastasse enfrentar Bolsonaro, temos que lutar contra o sucateamento da pesquisa científica e das universidades estaduais, pois estas instituições não recebem os recursos necessários ao desenvolvimento pleno de suas atividades. Política é feita de escolhas, ou seja, prioridades. E não é prioridade do governador Rui Costa a pesquisa científica, assim como, nossas universidades estaduais. Será que é possível pensar em políticas públicas, democráticas e de acesso universal sem o concurso das instituições de ensino superior do estado e dos fundos públicos de pesquisa como a FAPESB? Porque tamanha perseguição aos que produzem conhecimento científico em nosso estado? Hoje estão sob ameaça pesquisas desenvolvidas pela UFBA, UFRB, UNEB, UESC e UEFS, pelo Instituto Gonçalo Muniz, braço da Fiocruz na Bahia e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), junto com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), entre outras!

O compromisso com a democracia se expressa na prioridade da pesquisa científica pois o conhecimento produzido é público e estará à disposição do conjunto da sociedade. Não é possível atacar de maneira tão violenta a pesquisa científica em nosso estado e estar comprometido com uma agenda progressista, de fortalecimento da produção pública do conhecimento e técnicas científicas. Não ao corte de bolsas na FAPESB! Precisamos iniciar imediatamente a retomada dos investimentos públicos na pesquisa científica de nosso estado e isso precisa ser tratado com a prioridade e respeito necessário aos pesquisadores e todos aqueles que estão cotidianamente envolvidos em estudos para melhorar as condições de vida do conjunto da população.

Fábio Nogueira, Prof. Adjunto da UNEB e autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015); Malês 1835 – Negra Utopia (Editora FLCMF, 2020) e de artigos para jornais e revistas acadêmicos, entre os quais, Le Monde Diplomatique e Revista Plural (USP). @professorfabionogueira

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Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

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