O aquilombamento foi uma experiência concreta, que demonstrou na prática que era possível construir uma outra sociedade mais humana, mais justa, mais ambientalmente viável. Os quilombos são o resultado da ousadia, da perspicácia de um povo que não se curvou diante das dificuldades e das barreiras que pareciam intransponíveis.

A esperança é o sentimento que nos move. Sonhar, lutar e acreditar que podemos construir algo melhor para nós e para as próximas gerações.

Somos um povo sofrido que resiste há séculos, lutamos até hoje contra os invasores que querem tomar nossas terras. Lutamos contra a escravização dos nossos corpos por mais de três séculos e neste processo construímos alternativas de sociabilidade, que foram os quilombos.

O aquilombamento foi uma experiência concreta, que demonstrou na prática que era possível construir uma outra sociedade mais humana, mais justa, mais ambientalmente viável. Os quilombos são o resultado da ousadia, da perspicácia de um povo que não se curvou diante das dificuldades e das barreiras que pareciam intransponíveis. O fim da escravização foi fruto dessa luta.

Os desafios e as dificuldades não acabam com o fim da escravização, mas ganham novos contornos. A luta passa a ser pela sobrevivência, pelas tentativas de integração social, econômica e cultural, pelo direito de existir. Questões que estão colocadas até hoje pelo povo negro em nosso país.

Na atualidade atravessamos um momento de profundas dificuldades, ausência de emprego e poucas alternativas de geração de renda. Quem consegue emprego precisa se deslocar por longas horas no transporte público e muitas vezes não tem com quem deixar os filhos pela ausência de creches. Nos bairros onde moramos falta muita coisa, a escola é precária, falta remédio no posto, não tem espaços culturais e de lazer, nos sentimos inseguros, inclusive com a presença daqueles que deveriam nos proteger.

O cotidiano massacrante nos faz parecer fracos, impotentes, incapazes de mudar os rumos e a rota da vida. Isso nos traz a necessidade de sempre buscar um conforto, um acalanto, algo que nos alimente de esperança para seguirmos em jornada. Essa busca não deve ser individual, mas coletiva.

São nesses momentos difíceis que mais precisamos resgatar a força de nossos antepassados. Aquilombar-se é se nutrir da ancestralidade, compreender as tecnologias e métodos que construímos ao longo dos séculos, que nos permitiu chegar até aqui. Esse pertencimento e essa identidade são fundamentais para percebermos que não estamos sozinhos e que precisamos estar irmanados, agindo coletivamente e estrategicamente.

Aquilombar-se na atualidade é estabelecer o Autocuidado, construir espaço coletivos de afeto, de acolhimento, de escuta, de sociabilidade, de sentidos coletivos, de fortalecimento de laços, memórias e constituição de uma identidade.

Aquilombar-se é se Organizar, constituir espaços que possamos refletir e agir sobre a nossa realidade. Questionar o que está posto que nos oprime e construir demandas, ações concretas, nos colocar em movimento para mudar nossa realidade.

Aquilombar-se é compreender a nossa história, nossas origens, nossa cultura, resgatar nossas memórias, é lembrar o passado, para entender o presente e construir o futuro. Isso nos faz perceber o quanto a Ação Cultural e Ação Política caminham juntas e formam uma tecnologia poderosa de organização e intervenção social.

Aquilombar-se é também saber se comunicar, organizar conceitos, construir fundamentos, narrativas e estabelecer diálogo com o conjunto da sociedade. É A Batalha das ideias. Além de descolonizar o nosso corpo, precisamos descolonizar nossas mentes.

O aquilombamento é uma necessidade histórica, é um chamado, uma reconexão com nossa ancestralidade para atuar no presente, é construir esperança, é construir força, é construir sonho, é construir um futuro melhor!

Por Joselício Junior, Mestrando do Programa de Mudanças Políticas e Sociais (USP), Coordenador Geral da Editoral Dandara e militante do Círculo Palmarino.

Publicado originalmente Revista Fórum

Compartilhe!

Assuntos relacionados

Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

últimas

Instagram
Twitter
YouTube
WhatsApp
Facebook