A essência da política é a possibilidade de fazer escolhas. Escolher que tipo de cidade […]

A essência da política é a possibilidade de fazer escolhas. Escolher que tipo de cidade em que queremos viver, quais são suas prioridades, como será investido o dinheiro da saúde, educação, cultura e transporte. Nos últimos anos, a política brasileira foi colonizada pelas grandes corporações, empresas privadas e pelo capital financeiro. Este é o setor que domina a política brasileira. Mas como eles conseguem isso? Em primeiro lugar, por que contam como o apoio do monopólio midiático que diuturnamente repete seu mantra em defesa dos interesses privados, do capital financeiro e dos grandes capitalistas. Redes de televisão, cadeias de rádio, jornais e revistas formam um conglomerado midiático numa teia poderosa que une clientelismo, troca de favores e enormes cifras. Movimentam muito dinheiro e, para isso, defendem poderosos interesses incrustrados no aparato do estado e dos grupos econômicos com o qual possuem relações históricas. Em segundo lugar, pelo financimento privado de campanha. Empresa não faz doação de campanha; faz investimento. Observamos a mercantilização dos candidatos e seus partidos através das “doações” (agora “ocultas”) que denunciam o “rabo preso” com poderosos grupos econômicos interessados nos serviços contratados pelas prefeituras, governos estaduais e governo federal (limpeza urbana, empreiteras e propaganda). Em tempo de Copa do Mundo e Olimpíadas, a falta de transparência nas licitações de contratos de empreiteras e construtoras é um completo absurdo que faz funcionar o ciclo de mercantilização da política partidária. É por isso que estes grupos econômicos se constituem como “máfias”, ou seja, organizações criminosas que se associam para a pilhagem dos recursos públicos através da promoção de seus interesses junto aos representantes eleitos pelo voto direto. Evidentemente, as “máfias” assumem uma roupagem “legal” para ocultar o saque espúrio do fundo público: são as PPP´s (parcerias público privadas), a transferência do patrimônio público para o campo privado (privatizações), as terceirizações, as Organizações Sociais (OA´s) e os contratos que dispensam licitação. Em terceiro lugar, estes grupos controlam o aparato político através da promoção de uma cultura individualista, no sentido amplo do termo. Individualista no que diz respeito a fazer com que nos desresponsabilizemos pelo coletivo; a conseqüência de nosso atos para vida coletiva não deve ser objeto de preocupação. O valor ético de nossas escolhas para a vida coletiva torna-se menos importante: a cultura do hoje, do agora, do “farinha é pouca, meu pirão primeiro”, tem formado uma geração de pessoas sem o mínino de preocupação sobre assuntos fundamentais para a vida em sociedade como o tratamento do lixo, a poluição dos rios e córregos, a situação das famílias desassitidas e sem moradia, o crescimento do número de dependentes químicos e a ausência de políticas públicas de saúde voltadas para este setor da população (só para ficar nestes exemplos). Porém, é também individualista no sentido de que a participação e o interesse por assuntos políticos são vistos com reservas. Toda iniciativa política e coletiva é “demonizada” como uma forma autoritária de controle; o capital sempre se utiliza do discurso em defesa da liberdade de expressão e consciência quando tem seus interesses ameaçados. E faz isso promovendo uma cruzada cultural constante que convence as pessoas a se desengajarem, promovendo o “medo do coletivo” pois uma vida voltada para o coletivo seria a antesala do autoritarismo. O exemplo de bens culturais mercantis são abundantes historicamente. Hoje, no entanto, são mais sofisticados. A cultura do big brother, da espetacularização da dor, do sofrimento e da solidão; são o exemplo mais impressionante de um sistema que quer reduzir a subjetividade humana a uma mercadoria que pode ser descartada a qualquer tempo e que só serve na exata medida da promoção de seus interesses. É evidente que a reação a este estado de coisas, que é o espírito de nossa época, partirá de contra-racionalides, novas subjetividades, libertar da docilização física e mental do sistema dominante. Ela se constitui silenciosamente, como as revoltas dos africanos escravizados em nosso país, a partir de grupos de pensadores, culturais, movimentos sociais, lideranças partidárias, partidos contra a ordem e lutadores sociais, e devem se articular para fora, inundar a vida de tudo e de todos e constituir as bases de uma nova sociedade.

Fábio Nogueira de Oliveira, militante do PSOL/BA, do Círculo Palmarino e Professor da UNEB (Campus XXIII – Seabra).

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Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

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