Vanguarda compartilhada. Trechos selecionados de “Vanguardia y Crisis Actual” (1990). Tradução Fábio Nogueira e Carlos Menegozzo.

Vanguarda compartilhada

Trechos selecionados de “Vanguardia y Crisis Actual” (1990) de Marta Harnecker (1937-2019)

Tradução: Carlos Henrique Menegozzo e Fábio Nogueira

Para ter acesso a versão em pdf clique no link ao lado: Vanguarda Compartilhada – final (1)

I. Vanguarda Coletiva ou Compartilhada

Ao invés de usar o termo vanguarda, algumas pessoas preferem o termo força dirigente de transformação para dar conta do conceito mais amplo da direção política. E também para evitar discussões com aqueles que se apegam ao conceito dogmático de vanguarda, com o qual se atribui este caráter exclusivamente à classe operária e seu partido.

Certas organizações, como a Resistência Nacional salvadorenha, falam de vanguarda de conjuntura para distingui-la da vanguarda histórica, que corresponderia à conceituação mais clássica. Com esta conceituação de vanguarda se aponta para a questão da direção da luta de classes em um determinado período e à amplitude que aquela direção deve ter. Este é seu mérito prático, ainda que teoricamente se deva perguntar se com isto não se está caindo numa tautologia. Afinal, nos dois casos trata-se da forma que assume a luta de classes numa determinada situação concreta ou conjuntura política[1].

A concepção estreita e dogmática de vanguarda já está sendo atualmente superada. Um número crescente de dirigentes revolucionários marxistas latinoamericanos fala hoje de uma vanguarda coletiva ou compartilhada[2], e alguns incluem nesta condição todos os agentes de transformação social.

A direção do Exército de Libertação Nacional (ELN) da Colômbia, por exemplo, cunhou o conceito de vanguarda coletiva em 1982. Com ele se buscava levar em conta o curso que havia seguido o movimento revolucionário naquele país.

Conforme afirma Rafael Ortiz, membro de seu comando central, cada organização tem “suas próprias particularidades, dependendo do setor de classe que compõe suas fileiras militantes e do tipo de luta que se desenvolveu na década de 1960”.

“O surgimento do M-19 na década de 1970, apresenta também suas peculiaridades do ponto de vista de sua composição social. Seu projeto dialoga mais com setores médios da população, embora também o faça com alguns setores marginalizados”.

“Mas ao se fazer uma avaliação de cada um dos esforços daqueles que temos nos proclamado vanguardas, se pode constatar que não logram dar uma solução revolucionária à crise instaurada no país. Nenhum destes projetos foi bem sucedido nisso: ELN, PCC, FARC, M-19, PCC (M-L)-EPL. Não se consolidaram naquela condição, porque nenhum dos movimentos revolucionários cobre a atividade política nacional, nem abarca todos os setores sociais. As limitações de suas propostas políticas e de trabalho organizativo, além de uma série de outros fatores, resultam no fato de que nenhuma força isolada pode apresentar uma saída revolucionária para o conflito”.

“Estudando experiências revolucionárias distintas, como a da Nicarágua e de El Salvador, esta organização chegou à conclusão de que o processo de unificação não poderia ser “um processo mecânico, que se limita a juntar algo disperso, mas sim um processo de construção de saídas revolucionárias à situação que se vivia no país”.

“Estamos convencidos de que devemos confluir na busca de um projeto revolucionário unificado para enfrentar a problemática da Colômbia” – afirma Rafael Ortiz. “As organizações revolucionárias tem trabalhado nestes 10, 15 ou 20 anos na busca de uma saída revolucionária acumularam uma experiência histórica em nível político, militar e de massas, e temos uma determinada influência em diferentes setores sociais. E há áreas onde nossa presença coincide e nossas bases concordam em apoiar-nos e exigir-nos unidade”.

“Então, para alcançarmos uma resposta global para o conflito de classe, temos que unir esforços avançando numa direção unificada. Se cada um pretender continuar a caminhar isoladamente, o processo pode durar 50, 100 anos…”

“Nós e a Coordinadora Guerillera Simón Bolivar, estamos assumindo um compromisso de caráter irreversível: avançar no processo de construção de uma vanguarda, ou seja, uma direção unificada da revolução colombiana”.

– E quando lhe perguntamos porque falam de direção unificada e não de fusão, nos responde:

“Nós não vemos que seja necessária a fusão das forças que compõem a Coordinadora Guerrillhera Simón Bolivar, para dar uma saída revolucionária ao processo. Podemos ter uma direção unificada, um plano político que articule a força militar, a força de massas e uma frente política ampla. Nos parece que o importante é golpear em uma mesma direção e com um mesmo plano a força inimiga, tanto na área militar como na questão da greve e da insurreição. A direção unificada é o coletivo de direção das forças de vanguarda, atuando sob um plano único e uma só direção”.

“Nós trabalhamos com o conceito de vanguarda coletiva. É importante precisar que esta é uma concepção que respeita realidades como, por exemplo, a existência de diferenças políticas. Este projeto dá espaço ao pluralismo político entre os revolucionários, mas também, e como questão vital, dá espaço aos aspectos comuns e às identidades. Com este conceito pensamos que se pode trabalhar melhor e avançar na construção da vanguarda do processo, porque este permite construí-la segundo nossas realidades e nossas necessidades, evitando nefastas autoproclamações que em nada contribuem para a unidade dos revolucionários” (Harnecker, 1988, p. 104-106)[3].

Como se pode ver, o conceito de vanguarda coletiva não é um conceito que brotou da cabeça de um intelectual revolucionário. É a própria prática política que o tem engendrado. E não é de se admirar que tenha sido Clodomiro Almeyda, acreditamos, um dos primeiros a empregá-lo, à época da Unidad Popular no Chile, quando a necessidade de direção política única era a tarefa subjetiva mais urgente. Não bastava ter construído uma frente política de esquerda. Era necessário dar um salto qualitativo na construção de uma direção unificada, tanto para a aplicação do programa da Unidad Popular, como na luta frente à contra-revolução, que se fortalecia a cada dia e que havia logrado estabelecer um estado maior unificado e bastante eficiente.

1.Vanguarda e frente política: uma distinção necessária

A propósito das palavras de Clodomiro Almeyda, nos parece importante distinguir entre o conceito de vanguarda e da frente política, o qual não deve ser confundido com o conceito de vanguarda-frente. A frente política agrupa todas as forças sociais e políticas dispostas a levar adiante as mudanças revolucionárias no atual estágio da revolução; mudanças que se materializam em um programa econômico, social e político. Por sua vez, a vanguarda tem a ver com a direção política do processo revolucionário, ou seja, com a direção da luta de classes. Há forças sociais e políticas que podem ser parte da frente, mas por suas próprias características (setorial, regional, etc) não têm necessariamente uma visão global da sociedade e, portanto, não podem conduzir a luta contra o regime imperante. Isto pode ocorrer, por exemplo, com movimentos de bairro, indígenas, cristãos, etc.

Isto significa que a vanguarda ou força dirigente do processo revolucionário, se bem representa os interesses de todo o povo explorado, não pode confundir-se com este, nem sequer com toda a classe trabalhadora, mas é formado a partir do setor mais consciente e combativo dos vários grupos sociais e suas expressões políticas.

– Mas como articular a vanguarda aos novos componentes do sujeito social na América Latina?

Nos parecem interessantes as reflexões de Narciso Isa Conde sobre este tema. Eles diz que se deve pensar em “novas formas de articulação” destas vertentes “e no desenvolvimento de identidades particulares em uma escala muito maior do que antes”.

Referindo-se especificamente aos cristãos revolucionários afirma que eles “devem partir de sua própria coordenação em linhas claras, sem aparatos, algo que não é difícil porque, mesmo dispersos, pensam da mesma forma, agem da mesma forma e têm uma unidade essencial e às vezes até maior do que da esquerda marxista, e contam com quadros de dedicação integral motivados pela fé e inseridos nas organizações das Igrejas”.

Os novos sujeitos sociais devem ser articulados com as demais forças de esquerda “através de formas adequadas às suas características e respeitando as respectivas identidades. Sem manipulações, sem ostentação, sem pretensões de cooptação ou instrumentalização, mas potencializando a unidade na diversidade”.

“Isso exige uma ruptura com a visão tradicional de que a vanguarda, mesmo unitária, só é possível através do monopólio ou da hegemonia marxista-leninista; exige a assimilação da ideia de uma hegemonia compartilhada entre marxistas revolucionários, cristãos revolucionários e revolucionários de outras tendências” [4].

2.Vanguarda pluralista: um aporte e não um defeito

Do exposto, podemos constatar que, para além dos partidos comunistas, dos trotskistas e maoístas que tem se apresentado como partidos de classe têm surgido outras organizações revolucionárias[5], muitas das quais, apesar de lutar por um projeto democrático-antiimperialista que propõem transformações sociais profundas, dificilmente poderiam ser caracterizados como partidos operários. Estamos nos referindo, por exemplo, ao M-26 de Julho, à Frente Sandinista, ao Partido dos Trabalhadores do Brasil, nos setores revolucionários do peronismo, nos partidos social-cristãos ou social-democratas que tem assumido conseqüentes atitudes democrático-antiimperialistas. Por outro lado, novos sujeitos sociais têm surgido nas últimas décadas em nosso continente e algumas destas organizações representam mais estes novos sujeitos que a classe operária. Não apenas representam diferentes sujeitos sociais, como não se concebem como partidos classistas, mas como movimentos de frente ou frentistas.

Em suma, para poder construir vanguardas na América Latina é crucial, portanto, levar em consideração as origens plurais das mesmas. Como regra geral, estas são o resultado da convergência das diversas correntes revolucionárias. Raramente o desenvolvimento orgânico de uma dessas organizações revolucionárias isoladamente logra cobrir todo ou a maior parte do espectro político revolucionário, subordinando todos os outros à sua direção.

Estes agentes de mudança social podem variar em número, características, tendências, em função de peculiaridades, culturas, tradições históricas e políticas dos vários países do continente. Mas é necessário aceitar – como disse Narciso Isa Conde – que estes agentes “vão mais além dos partidos e grupos da esquerda histórica e que alguns, sem ser partidos ou grupos políticos propriamente ditos, podem contribuir mais do que alguns desses partidos” [6].

– Se assim ocorre, a fusão deve ser necessariamente a meta de uma direção coletiva compartilhada?

É cada vez mais difundida entre as organizações revolucionárias latino-americanas as opiniões quanto aos benefícios que trazem ao processo revolucionário a existência de uma vanguarda que mantenha seu caráter pluralista.

Conceber a vanguarda como uma direção de natureza pluralista permite conceder um novo status às organizações revolucionárias que não podem ser englobadas na condição de partidos marxista-leninistas tradicionais. Já não é mais possível considerá-las como simples companheiras, nem para aplicar-lhes o conceito de aliados estratégicos dos “machistas-leninistas”, como disse Guillermo Ungo: “os ‘leninistas’ são os homens, aqueles que detêm a doutrina, as ‘Tábuas da Lei’, e os outros seriam as ‘mulheres’, as que estão na cozinha, sem as quais não se pode comer porque são elas as que cozinham, mas com as quais não se compartilha a direção”[7]. Trata-se de reconhecê-los, portanto, como forças que conduziriam conjuntamente o processo revolucionário nesta etapa da revolução.

Joaquín Villalobos reconhece que “uma compreensão dogmática do problema da vanguarda gerou atitudes negativas e equivocadas no movimento revolucionário, refletida em caracterizações como ‘companheiros de viagem’, ‘aliados pequeno-burgueses’ e uma aplicação mecânica do conceito de ‘hegemonia proletária’. Quem poderia duvidar – questiona – que a FDR, com a qual se chegou ao longo de todos estes anos de guerra a uma forte identidade quanto à necessidade de uma mudança revolucionária em El Salvador, deve ser parte da vanguarda em nosso país?”. O comandante salvadorenho destaca que o conceito de vanguarda deve incluir todos os agentes de mudança social[8].

Facundo Guardado concorda com a abordagem acima quando afirma: “Há pessoas que são revolucionárias muito valorosas e conseqüentes, e não é preciso que te jurem serem marxistas-leninistas para que possam tomar parte da direção desta revolução. Se, concretamente, é uma pessoa que pressiona a história no sentido que é exigido pressionar em El Salvador neste momento, podemos e devemos contar com elas” [9].

Portanto, tudo leva a crer que esta origem plural da vanguarda na América Latina não pode necessariamente ser vista como um defeito a ser eventualmente superado. Ao contrário, essa riqueza de organizações políticas variadas constituem um aporte, de acordo com Joaquin Villalobos. Este dirigente analisa a experiência de El Salvador e mostra como, na medida em que se amplia o protagonismo político das forças que integram a FDR e, em seguida a Convergência, se faz mais ativa, a estratégia se torna mais integral, mais completa, mais sólida, e aumentam as possibilidades de que novos aportes aconteçam. O fato da vanguarda não ser um corpo único facilita a confrontação, o debate, a construção de posições e de um pensamento político muito mais acabado. Isto, por sua vez, cria melhores condições para o correto exercício do centralismo democrático.

Além disso, podemos comprovar que em alguns países existem organizações revolucionárias com um perfil próprio e bastante diferenciado das demais. E é esse perfil, por suas características, o que muitas vezes permite ter influência e chegar a setores sociais mais amplos que os que podem alcançar os partidos operários tradicionais. Esta foi a experiência do Movimiento 26 de Julho, em Cuba, da Frente Sandinista na Nicarágua, dos Tupamaros no Uruguai, dos Montoneros na Argentina, do M-19 na Colômbia e, mais recentemente, do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil, para citar alguns exemplos. É possível pensar que uma tentativa voluntarista de fusão entre estas organizações e os partidos tradicionais, em lugar de somar, subtrai forças da revolução. Em contraste, uma direção partilhada, sem dúvida, potencializa suas forças[10].

Além disso, deve-se considerar que muitas organizações revolucionárias têm sua história e suas raízes, e que estas marcaram um estilo de trabalho que não é fácil mudar de um dia para outro e que podem significar uma contribuição para o conjunto.

Poderíamos fazer nossas as palavras de Clodomiro Almeyda, atual presidente do Partido Socialista do Chile, quanto à contribuição de distintas vertentes revolucionárias[11] à torrente atual que representa a vanguarda. O ex-chanceler de Salvador Allende argumenta que a contribuição de cada vertente “não é a mesma, não é simétrica. Em algumas vertentes ela se mede em termos de massa, em outras em termos de solidez organizativa, e em outras mais em termos de raízes profundas na nossa história. Em algumas, sua contribuição enfatiza o viés internacionalista da luta dos povos e dos oprimidos e, em outras, a ênfase é sobre o perfil latinoamericano de nosso processo de libertação. Em algumas, se ressalta o núcleo operário da revolução, enquanto em outras se insiste no caráter popular da emancipação”. Desta observação conclui que cada vertente reflete aspectos parciais que são tomados como “ingredientes necessários” do processo de libertação em seu conjunto[12].

3. No lugar de somatória de siglas, conduções reais

No entanto, parece importante insistir, na medida em que ser vanguarda não significa outra coisa que ser capaz de dirigir a luta de classes, que esta direção não pode constituir-se mediante uma simples somatória de partidos ou organizações revolucionárias; não pode constituir-se em uma vanguarda enquanto simples somatória de siglas.

Com relação a este tema, parece significativo que Rubén Zamora, dirigente da Frente Democrática Revolucionária de El Salvador e um dos que deveria estar mais interessado em que se considerasse essa organização como parte da vanguarda salvadorenha, ou seja, que entre FDR e a FMLN se desse uma “vanguarda compartilhada” – como assinalada Guillermo Ungo – esclareça que tomar parte da direção política não é uma questão de boas inteções, mas que deve haver necessariamente uma correlação real de forças que justifique ou endosse que uma determinada organização deve tomar parte da vanguarda[13].

Não se trata então de declarar a priori que todas as organizações de esquerda de um determinado país devam se unir para conformar a vanguarda do processo. Existe um requisito mínimo: devem representar uma força revolucionária real, ou seja, devem dirigir realmente algum segmento da população.

4. Um desafio prático

A existência de diferentes organizações conformando uma mesma direção é ainda um desafio prático. Diferentes experiências revolucionárias latino-americanas caminham neste sentido, porém ainda não lograram consolidá-las e afiançá-las. Não cabe dúvida que o desafio é sério e a maturidade que se requer das organizações que tomam parte deste intento de vanguarda coletiva é grande. Não obstante, apesar as dificuldades de uma tarefa desta importância e envergadura, tudo parece indicar que em muitos países a revolução deve passar por este caminho.

Sem embargo, concordamos com Rubén Zamora quando disse que da mesma maneira em que não se deve cair no “fetichismo do partido único”, como se fez durante muitos anos, tampouco se deve cair no “fetichismo do pluralismo”[14]. Não há receitas nem fórmulas mágicas, porém algo que pode eximir de maiores erros é tratar sempre de partir do esforço de interpretar corretamente a realidade nacional e seus condicionantes. É totalmente possível que ocorra que em determinados países, previamente a construção da vanguarda coletiva, se produzam processos de fusão das organizações com características mais similares e procedência de um tronco comum prévio.

Somos realistas e pecaríamos por utópicos se pensássemos que no âmbito da vanguarda coletiva se pode eliminar toda disputa entre as organizações. Não nos assusta considerar que um certo nível de disputa é normal e, mais ainda, benéfico desde que não leve à ineficácia e à esterilidade política.

É necessário refletir sobre as implicações teóricas e orgânicas que pode ter o fato de que em um determinado país coexistam vários partidos revolucionários, com anos de árduo trabalho de construção de instrumentos organizativos internos e de influência nas massas, e que, junto a eles, existam diferentes sujeitos sociais revolucionários, alguns cujos representantes devem tomar parte da vanguarda.

II. A vanguarda coletiva e seus princípios de organização

1. Quais os métodos para aplicar uma direção unitária?

Até aqui nos referimos aos princípios leninistas aplicados a um partido ou organização revolucionária.

Devemos nos perguntar agora se estes princípios podem ser aplicados ao novo tipo de vanguarda que hoje surge na América Latina: seja esta uma vanguarda coletiva formada por diversas organizações e partidos ou um partido-frente como avaliamos seria o caso do Partido dos Trabalhadores, do Brasil.

Nos parece que a experiência prática indica que não se podem aplicar, neste caso, e com sucesso, alguns dos princípios do centralismo democrático. E isto é assim porque não se trata de uma organização única, senão de múltiplas organizações que se reúnem para tornar mais efetiva a direção da luta em seus respectivos países. Nesta modalidade, a vanguarda estaria constituída por várias vertentes que mantém suas estruturas orgânicas, constituindo algo similar ao que seriam as frações dentro de um partido único e, com a diferença que, sem deixar de sê-lo, quer dizer, sem perder sua individualidade orgânica nem suas tradições de luta, devem conseguir se colocar de acordo com a linha política única, para que os esforços de todos seus componentes confluam na mesma direção: a de golpear o inimigo comum.

Quando se propõe como requisito para a conformação de uma direção revolucionária única a constituição prévia de uma unidade orgânica, as dificuldades são ainda maiores. Vejamos aqui o exemplo da FMLN.

– Joaquín Villalobos destaca a respeito que:

“Quando discutimos sobre os aspectos políticos da unidade, ou seja, sobre os projetos políticos que devemos implementar, há debate, porém não há problemas. Porém, quando entramos na questão da sujeição orgânica, então sim há problemas, porque o processo de unificação orgânica é muito complexo. Cada vez que a FMLN tentou colocar a unidade orgânica acima da unidade política, fracassaram seus planos de unificação. Quando fez o contrário avançou e o aspecto orgânico foi se acomodando às exigências políticas. Se foram criando e diferenciando estruturas e se foram unificando onde era necessário fazê-lo para uma melhor política de investimento dos quadros políticos. Tudo isso vai ocorrendo sobre a base de que há unidade em torno da linha, unidade em torno da ação.

“Se ao contrário, nos pusermos em acordo nas ações a realizar e, como produto desse projeto, nos vemos obrigados a dar passos orgânicos, o resultado é muito mais positivo e a adoção dos acordos orgânicos que dali derivam são muito mais duradouros”[15].

Das experiências que conhecemos haveria que extrair a conclusão de que os avanços unitários nos aspectos orgânicos devem ir respondendo aos requisitos das tarefas que se depreendem da linha de ação comum, e não o contrário disso.

E como chegar a uma linha comum? Aplicando a sujeição da minoria à maioria? Até agora este método não pôde ser aplicado com êxito. Por outro lado, no caso da FMLN, só deu resultados positivos a aplicação do princípio do consenso.

– Vejamos o que neste sentido nos explica Roberto Roca:

“Os mecanismos através dos quais operamos se baseiam no que eu chamaria de ‘busca pelo consenso’ e isto tem muito de arte. A ele se chega através de uma discussão permanente, ainda que baseada em um princípio diretor: a vontade de manter a unidade deve ser mais forte que qualquer outro fator que possa dividir. Só quando este pensamento cala em todas as organizações pode se dizer que existe a base subjetiva indispensável para chegar ao consenso, o que por sua vez supõe uma grande maturidade dos quadros.

“Partimos do intercâmbio de experiências, da discussão ideológica bem conduzida, deixando sempre o espaço necessário às diferentes organizações para que provem na prática aquelas proposições que não puderam ser aceitas por consenso. Aquilo no qual há consenso permite estabelecer uma linha política que dê coerência a nossa prática.

“Não obstante, para implementar estes mecanismos se requer que os membros que compõem cada organização e, em particular os organismos de direção, se movimentem de forma flexível. Devem saber manter, precisamente, uma espécie de equilíbrio entre o consenso e a discussão franca e aberta. Apenas assim podem prevalecer as posições corretas.

“Essa prática tem permitido garantir que quando no nível de Comando se estabelece acordo por consenso, que este realmente seja executado por todas as organizações que conformam a FMLN, inclusive aquelas que no curso do debate partiram expressando pontos de vista diferentes, e que não fique congelado como um mero acordo formal. Porém para que isso aconteça é necessário que antes da tomada de uma decisão ou estabelecimento de um acordo se leve a cabo o mais amplo debate democrático.

“Em [19]83, por exemplo, quando a situação era muito tensa, as coisas não eram assim. Se chegava a acordos formais que logo não se cumpriam. Hoje se pode afirmar com certeza que os acordam se adotam realmente por consenso, porque todos os participantes neste debate chegaram a se convencer de que esta é a linha correta e se em algum momento, uma organização propõe algum matiz, algo diferente, a decisão da maioria prima sobre a decisão da minoria. Se chegou a um nível de maturidade tal que uma dada organização não se aferra a suas posições senão àquelas que são capazes de participar do acordo do coletivo.

“Daí que na prática, o FMLN tenda a aparecer com acordos de consenso aceitos por todos, apesar de que possam seguir existindo diferenças. Este comportamento das organizações e de seus dirigentes máximos evidencia a maturidade política alcançada, assim como a firme convicção de consolidar a unidade: o bem mais precioso que possui a vanguarda.

“Toda esta prática deu às organizações que conformam a FMLN uma grande força na hora da realização do trabalho no terreno prático.

“Creio que recuperamos aquele conceito leninista de que a luta ideológica fortalece o conjunto. Se trata de uma unidade na luta, em prova e debate constante. Atualmente, em cada organização da FMLN há companheiros que mostram simpatias por determinados métodos e posições que se estão pondo em prática, porém nesta mesma organização há outros que pensam coisas diferentes. Tudo isso contribui sempre a um rico debate ideológico. O que extraímos ao final é o pensamento e os métodos que sintetizam a experiência de todos. O resultado é uma síntese. O consenso não é, portanto, a simples somatória das posições iniciais, é uma nova posição, geralmente é uma posição diferente da original.

“Eu agregaria outro requisito muito importante para que realmente se dê uma direção coletiva: é necessário ser franco na hora da discussão, não se deve ocultar opiniões e lançar somente as que se sabe que de antemão tenham aceitação. O que quero dizer é que o processo de luta ideológica deve ser franco, fraternal, sem manipulações. Se não há franqueza o que se gera é um processo de conspiração interna.”

Em compensação, a prática parece mostrar que dá melhores resultados o método da busca pelo consenso e dentro deste, uma forma muito peculiar que começou a usar o Comando da FMLN: o emprego das reuniões bi ou trilaterais prévias a uma reunião do coletivo geral para ir resolvendo as diferenças.

“Desde há algum tempo – conforme assinala o comandante Roca – temos implementado as reuniões bilaterais. Estas se converteram em um mecanismo apropriado para ir buscando fórmulas de aproximação para a apresentação de iniciativas, de sugestões, inclusive de novas propostas práticas e estratégias. Deste modo, através deste processo de aproximação gradual, se podem ir assentando as bases da adoção de um acordo de consenso.” Este processo, esclarece, “é totalmente alheio a conspiração. Tem como propósito precisamente o contrário, criar as condições para a adoção de acordos de consenso. As bilaterais ou as trilaterais constituem o primeiro recurso para chegar a um acordo. Isto evita ter que debater nas reuniões de conjunto problemas que podem ser resolvidos previamente. Estas reuniões permitem elaborar fórmulas de solução às desavenças que, logo, ao serem apresentadas na reunião do Comando, costumam alcançar um consenso imediato. Nas bilaterais, os companheiros podem se aprofundar nos elementos que fundamentam cada proposição e estes métodos preparatórios costumam permitir ver as coisas de outro modo e, muitas vezes, quem se opunha a um determinado projeto ou proposta termina sendo os seus principais defensores”[16].

E eu incluiria que este sistema de reuniões bilaterais ajuda a que se analisem com muito maior objetividade os temas em debate e que se deixem de lado os mecanismos de defesa que costumam adotar os dirigentes quando sentem que se retrocedem em determinadas posições frente ao coletivo podem estar colocando em jogo o prestígio de sua organização.

“Se apesar das bilaterais – continua Roca – não se consegue encontrar uma fórmula de solução, então, e apenas então, deve se submeter o assunto a discussão do conjunto e tratamos de buscar uma fórmula de solução baseada em um equilíbrio de interesses.

“Nós mesmos cometemos no início o erro de crer que direção coletiva significa que todo o mundo deveria estar em tudo, o ‘cinquismo’[17] como o chamamos pejorativamente.

‘Essa concepção errônea de pretender que em todas as instâncias deviam estar os representantes das cinco organizações que conformam a FNLN nos levou, em muitos momentos, a um travamento burocrático. Corremos o risco de que a participação se convertera em mais um mecanismo formal e que na hora da execução, cada organização fizesse o que fosse mais interessante para si.

“O importante em uma direção coletiva é saber definir com suficiente maturidade que tipo de atividades podem ser assumidas por tal ou qual organização. A título de exemplo, tomemos a Rádio Venceremos e Rádio Farabundo Martí. Ainda que o Comando tem uma direção global, o trabalho concreto de direção destes meio de comunicação é realizado por determinadas organizações. Demandar nesta área a participação das cinco organizações não apenas seria desnecessário como artificial; terminaríamos introduzindo tal quantidade de elementos improdutivos que poríamos em risco a agilidade do trabalho.

“Agora, quando se trata de uma área tão sensível como é a da rádio ou dos meios de comunicações em geral, eu diria que um aspecto muito importante a cuidar, para que se garanta a unidade, é que haja espaço para que se manifestem todas as organizações de tal modo que nenhuma fique sem poder difundir suas contribuições. Em outras palavras, preservar a igualdade de oportunidades para todas.

“Nesta questão da unidade não se pode absolutizar nem fixar regras, porque existem diferentes tipos de instâncias e de conjunturas que muitas vezes requerem a representação dos cinco, como no campo diplomático, por exemplo, ainda que, para dizer a verdade, atualmente se viu a necessidade de se ampliar a comissão político-diplomática. Porém, não se está pensando que de cinco passe a dez, e sim de melhor integrar o quadro mais adequado, independente de qual seja a organizações de onde provenha. O que interessa, em última instância, é a execução apropriada do trabalho cujos frutos nos servem a todos.

“Não se deve perder nunca de vista que não existe, necessariamente, identidade de desenvolvimento em todas as organizações; algumas podem ter quadros mais experimentados que outras em determinados campos. Se há um reconhecimento maduro desta realidade se podem evitar susceptibilidades que fazem muito dano a unidade. O importante é que cada organização contribua ao máximo para o conjunto com sua experiência prática, com suas formulações ideológicas, com suas concepções sobre o processo, com sua própria especificidade.”

“Fomos comprovando então, na prática – diz – que o método de direção coletiva era vital ao funcionamento enquanto vanguarda unitária. Pouco a pouco temos nos apropriado dele, desenvolvendo-o e aperfeiçoando-o através de um processo constante de discussão política.

“No FMLN não existe o conceito de secretario geral ou de coordenador. Desde o final de [19]81 se abandonou este esquema. Paulatinamente, todas essas formas de direção coletiva do Comando se estão estendendo às comissões políticas dos diferentes partidos e aos comitês regionais. O mesmo vem se sucedendo com o movimento de massas. Por razões eminentemente práticas e técnicas não foi possível ainda implementar esta política nas estruturas militares”[18].

2. Partido de massas e partido de quadros

“Eu me recordo – afirma Bernardo Jaramillo – que há uns três anos atrás alguns marxistas-leninistas, digamos, clássicos, olhavam com certo desdém para o PT, e diziam: ‘não… isso é um movimento que tem liberdade de tendências, que reúne não apenas diversos movimentos revolucionários, senão que a diversos setores sociais, um movimento onde não existe centralismo democrático na forma clássica em que foi concebido. Isto não tem futuro algum…!’

“Porém, este partido [eu falaria mais precisamente de partido-frente] conseguiu converter-se em uma organização de massas, enquanto que outros movimentos revolucionários no continente, que todos os dias se examinam para ver se desviaram um ponto e uma vírgula das obras dos clássicos do marxismo, não deixam de ser simples testemunhas da luta revolucionária.

“Tive no ano passado a oportunidade de encontrar-me com Lula e com um grupo de assessores. Fiquei impressionado. Eles conseguiram desprender-se do sectarismo, do dogmatismo, do vanguardismo, de todos os males que temos as forças revolucionárias na América Latina, para constituir uma organização revolucionária de grande alcance entre as massas.

“Porque para mim me parece que o central é que as organizações revolucionárias da América Latina sejam organizações de massas, do contrário, ainda que tenha um programa supostamente muito revolucionário, e dirigentes muitos heróicos, se isto não tem sustentação nas massas, se não está ligado ao devir cotidiano dessas massas, não tem nenhum sentido.

“Porém quero esclarecer que, a meu ver, o partido de massas não deve se entender necessariamente como um partido numericamente volumoso. Um partido deste tipo pode crescer e se fortalecer e ter militância em diversos setores da sociedade, porém isso não é necessariamente o fundamental. O importante é que sua política seja respaldada pelas massas, que com sua política ganhe a maioria da sociedade, quer dizer, que tenha capacidade de direção das massas”[19].

Nos parece importante este último esclarecimento, porque se tem usado o termo “partido de massas” no sentido quantitativo, ou seja, em relação com o número de militantes que conseguiu recrutar. Há partidos que se vangloriam do grande número de militantes que tem, porém, de fato, apenas conduzem seus filiados. O central não é, então, que o partido seja grande ou pequeno, o que interessa é que conduza maiorias e isto só pode conseguir caso parta da análise da realidade concreta que pretende transformar, e caso apresente um programa de ação com o qual o povo se identifique.

“Me parece que este tem sido, concretamente, o calcanhar de Aquiles do movimento revolucionário em meu país – assinala o presidente da União Patriótica e acrescenta: “quando eu sustento que há uma crise da esquerda, o digo no sentido de que esta não pôde realmente gerar esse movimento que conduza as massas, que ganhe as massas à sua proposta política, e que as massas sintam esse projeto político como o seu próprio”.

“Então, deixemos de nos enganar. Deixemos de dizer que não avançamos porque a burguesia faz de nós má propaganda, porque a burguesia… Cara, este é um aspecto, porém não é o definitivo…! O definitivo é que nossa política não cala nas massas… O definitivo é que o povo não crê na gente. E enquanto as massas não crerem em nós, podemos ficar roucos dizendo que temos a razão, porém vamos permanecer isolados.

“Quando tem uma opinião que é diversa a deles em algo, quando questionas algumas das coisas que eles consideram princípios inalienáveis, automaticamente te põem no terreno do inimigo”[20].

3. Articular o sujeito social da revolução

Uma vez esclarecida à relação estrutura organizativa-vanguarda, devemos nos deter no problema de como ir construindo as articulações da vanguarda potencial com o sujeito social da revolução e as formas organizativas que este deve assumir para tornar mais eficiente a luta contra o inimigo comum[21].

Primeiramente, o que se deve fazer é buscar uma fórmula para vincular-se às massas. E para isso é necessário definir por onde começar. Durante muito tempo, por causa do apego a uma incorreta interpretação das teses leninistas, os partidos e organizações revolucionárias priorizaram o trabalho no setor operário sem analisar previamente quais eram as condições concretas de seus países, como o fez Lênin no caso da Rússia. Recordemos que o dirigente bolchevique sustentava que “havia que ir ao encontro do movimento espontâneo dos setores populares” que, no caso da Rússia estava representado pelo proletariado industrial, para criar a “organização deste movimento” adequada às condições do país. Na Rússia, onde o campesinato era imensamente majoritário e atrasado, a classe operária industrial era o sujeito social com maior potencial revolucionário. Porém, este não é o caso de uma parte significativa dos países da América Latina, onde são outros os sujeitos sociais que tem mais disposição combativa.

Este foi concretamente o caso da Nicarágua onde, como vimos anteriormente, Carlos Fonseca, analisando a situação concreta de seu país, foi capaz de reconhecer que o setor estudantil ocuparia o papel dirigente na luta e que seu trabalho revolucionário não devia concentrar-se nos sindicatos, senão nos bairros populares e que para entrar neles jogou um papel muito importante o movimento dos cristãos revolucionários.

Por sua vez, o extraordinário crescimento da influência das FPL a partir de 1974, quando se volta ao trabalho das massas, foi também o resultado de uma correta análise de quais eram os setores mais sensíveis a ser mobilizados naquele momento em El Salvador. Sintomaticamente, apesar da autodefinição classista tradicional de partido marxista-leninista e vanguarda da classe operária deste movimento político-militar, não foram setores operários, mas professores, estudantes e camponeses os que constituíram o núcleo mais radicalizado do movimento de massas.

No caso da Guatemala, a luta revolucionária teve um extraordinário ascenso quando as organizações político-militantes descobriram o potencial revolucionário do movimento indígena nestes país.

A vanguarda deve detectar, então, quais são os setores do povo mais suscetíveis a ser trabalhados para a revolução. E, uma vez alcançado isso, buscar como os articular.

A Frente Sandinista criou uma organização revolucionária de massas para aglutinar estes setores: o Movimento Povo Unido (MPU). As FPL criaram para estes fins o Bloco Popular Revolucionário (BPR). No caso do Exército Guerrilheiro dos Pobres da Guatemala, o foi o CUC, organização de camponeses que jogou no campo um papel similar ao BPR em El Salvador.

Para conseguir que estes grupos dispersos se articulem organizadamente “se requer – como afirma Nelson Gutiérrez – a existência de quadros que realizem esta tarefa”. Estes quadros, “que se formam no próprio processo da luta de classes”, e que, desde logo, “não se improvisam” de um dia para outro, constituem a liderança natural que as organizações revolucionárias deverão de ser capazes de captar para seu projeto revolucionário[22]. E apenas assim serão capazes de constituir-se em vanguarda.

Se a essência da vanguarda é – como dizíamos – outorgar uma direção revolucionária a luta de classes e para isso necessita incorporar à direção os quadros orgânicos do sujeito popular, o núcleo dos problemas de organização “consiste, portanto, em saber estabelecer uma política que permita realizar o processo de recrutamento daqueles setores da sociedade que tem a capacidade de transformar-se em quadros idôneos para unificar e articular internamente as classes, ao mesmo tempo em que articulam as alianças de classes”[23].

Até aqui, vimos como ir conformando a estrutura orgânica da vanguarda, agora nos deteremos na relação que deve existir entre esta estrutura e as características que assume o enfrentamento entre as classes.

4.Readequação da estrutura orgânica em períodos revolucionários

Em períodos revolucionários, a vanguarda deve adequar sua estrutura orgânica às novas tarefas. Lênin usa a imagem de um exército em pé de guerra para referir-se as mudanças que devem se efetuar. Uma delas é o recrutamento massivo de novos militantes e simpatizantes entre os setores do povo que começam a despertar para vida política e que, imbuídos do espírito revolucionário, devem ser acolhidos e canalizados pelo partido, para formar-se no próprio processo de combate[24].

Se deve demonstrar audácia e iniciativa na criação de novas organizações que permitam canalizar o ascendente movimento de massas[25]. Porém não é necessário que todas as pessoas que se recrutam para a luta tenham que necessariamente se filiar a uma organização revolucionária[26].

Nas novas condições, o centro de gravidade deve passar da formação pacífica às ações de luta e a vanguarda deve estar disposta a impulsionar as ações revolucionárias, ainda que isto implique que a polícia dissolva seus aparatos legais. Isto não é fácl para os partidos que cresceram e se desenvolveram durante longos anos de calmaria, conseguindo formar grandes aparatos de funcionamento legal. Alguns deles sacrificaram “os objetivos revolucionários do proletariado para preservar suas organizações legais” [27].

Estas dificuldades para modificar as estruturas orgânicas com o objetivo de fazer frente às novas situações também se apresentaram na América Latina. Um caso ilustrativo é o do Partido Comunista de El Salvador que logo após uma larga experiência eleitoral decidiu passar à luta armada. E apesar de haver assumido esta linha demorou vários anos até implementá-la[28].

Por sua vez, como assinala Fermán Cienfuegos, as organizações político militares que estiveram durante longos anos sob a pressão da guerra, e que adaptaram suas estruturas orgânicas a esta situação, se vêem desafiadas hoje, quando se abrem novos espaços políticos, a voltar aos seus vínculos com o movimento de massas[29].

Por outro lado, ainda que com a melhor boa vontade, não é fácil realizar estas mudanças na estrutura orgânica da vanguarda. É necessário incursionar no campo até então desconhecido, e muitas vezes se deve “passar por cima dos velhos dirigentes” que, acostumados a anterior rotina, tendem a se opor a elas[30].

Por último, não basta que um partido declare a necessidade de efetuar estas mudanças, é necessário que demonstre na prática que é capaz de levar a cabo a luta revolucionária.

Não bastam as meras declarações – afirma Lênin – e para saber até onde este partido é conseqüente com seu discurso político considera que se devem fazer as seguintes perguntas: “é capaz o partido de levar a cabo a luta revolucionária de massas?; se está preparando para ela?; está estudando estes problemas, reunindo o material necessário, criando os organismos e organizações adequados?; está discutindo os problemas entre o povo e com o povo?”[31].

Se não se pode responder positivamente a estas perguntas quer dizer – segundo Lênin – que: “reina a anterior rotina e as ‘novas’ palavras (…) seguem sendo apenas palavras!”[32].

Nos parece importante recordar aqui o que Gramsci escreveu acerca da incapacidade que tem alguns partidos políticos para se adaptar aos períodos revolucionários ou de “crise”, como ele os denomina. “Este tipo de fenômeno está vinculado – disse – a uma das questões mais importantes que concernem aos partidos políticos; a capacidade do partido de reagir contra o espírito de rotina, contra a tendência de mumificar-se e a tornar-se anacrônico. Os partidos nascem e se constituem em organizações para dirigir as situações em momentos historicamente vitais para suas classes; mas nem sempre sabem adaptar-se às novas tarefas e às novas épocas, nem sempre sabem adequar-se ao ritmo de desenvolvimento do conjunto das relações de força (e por fim da posição relativa de suas classes) em um país determinado pela esfera internacional. Quando se analisam estes desenvolvimentos dos partidos, é preciso distinguir o grupo social, a massa dos partidos, a burocracia e o estado maior dos partidos. A burocracia é a força consuetudinária e conservadora mais perigosa; se ela termina por constituir um corpo solidário e a parte e se sente independente da massa, o partido termina por converter-se em anacrônico e nos movimentos de crise aguda desaparece seu conteúdo social e permanece nas nuvens”[33].

5. Uma organização capaz de adaptar-se às novas situações

Lênin oferece uma excelente imagem do que deve ser uma organização revolucionária para adaptar-se tanto aos períodos revolucionários como aos de calmaria, ao referir-se a organização própria de um exército moderno.

“É boa – disse – únicamente porque é flexível e capaz, ao mesmo tempo, de dotar a milhões de homens de uma única vontade. Hoje estes milhões de homens estão em suas casas, em diferentes rincões do país. Amanhã, quando seja ordenada uma mobilização, se reunirão nos pontos indicados. Hoje fazem maravilhas no combate aberto. Hoje seus destacamentos de vanguarda colocam minas debaixo da terra; amanhã avançarão dezenas de verstas[34] seguindo as indicações dos aviadores que sobrevoam a terra. Isto é o que se chama organização, quando em nome de um objetivo, milhões de homens, animados por uma mesma vontade, modificam a forma de suas relações e de sua ação, alteram o lugar e os métodos de atividade e mudam os instrumentos e as armas de acordo com as circunstâncias cambiantes e as exigências da luta.

“O mesmo pode se dizer da luta da classe operária contra burguesia. Hoje, não há situação revolucionária, não existem condições para que haja agitação nas organizações, para intensificar seu grau de atividade; hoje puseram em tuas mãos a cédula eleitoral: a toma, aprende a se organizar para usá-la como uma arma contra teus inimigos, não como meio para enviar ao parlamento, a posições protegidas, homens que se aferram ao bancos por medo da prisão. Amanhã, te retiraram a cédula eleitoral e colocarão em suas mãos um fuzil e um esplêndido canhão de tiro rápido, última palavra da técnica: toma então esta arma de morte e destruição, não escute os sentimentais, a quem nada lhes cai bem, temerosos da guerra; há ainda muito no mundo que deve ser destruído a sangue e fogo para a emancipação da classe operária. E se nas massas crescem a ira e o desespero, se existe situação revolucionária, prepara-te para criar novas organizações e usar essas armas de morte e destruição tão úteis, contra teu governo e tua própria burguesia”[35].

Depois de ler estas palavras de Lênin devemos ter presente que hoje a estratégia inimiga, em muitos casos, já não faz as separações de antes entre o voto e o fuzil. Somos testemunhos dos espaços que se abriram em El Salvador em plena situação de guerra.

O ideal é que a vanguarda tenha uma estrutura suficientemente unificada para que toda reorientação na direção da luta seja assimilado por seus militantes e se traduza de imediato em um reagrupamento de todas as forças. Apenas assim poderá intensificar sua ação combativa nos momentos de ascenso revolucionário e será capaz de retirar-se em ordem em momentos mais duros.

A sólida coesão organizativa não apenas outorga a capacidade objetiva de atuar; mas também cria um clima interno que torna possível uma intervenção enérgica nos acontecimentos e um aproveitamento das oportunidades que estes oferecem. Há que recordar que em política não apenas há que ter razão, mas que não que tê-la a tempo e contar com a força para materializá-la.

Do contrário, a sensação de não contar com uma organização sólida, a insegurança de poder por em prática as decisões adotadas por falta de disciplina da militância, influi negativamente na direção, exercendo uma ação paralisadora e de inibição na adoção de resoluções táticas[36].

6. Condução do movimento de massas nos períodos revolucionários

Porém, como conduzir o movimento de massas nos períodos revolucionários? A experiência prática parece demonstrar que deve tender-se a simplificar ao máximo a estrutura e as normas de organização. É sintomático que em vários países as direções do movimento de massas urbano – que conduzem a partir de estruturas organizativas muito simplicadas – tenham sido mais ágeis e estado mais capacitadas para enfrentar de forma criativa os desafios que apresenta a flutuante conjuntura do que as próprias direções políticas, que têm ficado a reboque dos acontecimentos.

Para resolver este problema, a FMLN chegou a conclusão de que é necessário dar uma maior autonomia às direções das diferentes frentes […]

A fim de que isto seja possível é necessário que a vanguarda elabore um plano de ação, o que Lênin denominava “um programa positivo de ação”. Parece ser conveniente que uma vez elaborado, os diferentes organismos atuem seguindo o plano em linhas gerais, porém tendo autonomia suficiente para decidir o que fazer concretamente de acordo com as conjunturas que se vão apresentando.

“Isto implica – afirma Joaquín Villalobos – em aceitar o direito de cometer erros. Se uma estrutura não dá margem a que se equivoque ou retifique, não está se dando autonomia. Se os quadros de direção estão próximos da situação concreta, podem fazer recomendações e observações que podem ou não ser tomadas em conta. Porém, não se pode postergar a tomada de decisões enquanto se aguarda a aprovação de estruturas que estão em outro terreno. A velocidade dos acontecimentos, os fatos e as situações que rodeiam estas estruturas têm outro ritmo. A direção central apenas poderá desempenhar um papel de condução destas estruturas caso seja capaz de elaborar uma política de previsão estratégica e não receitas ou recomendações específicas, porque se assim o fazem, ficarão sempre para trás […]

“Um elemento que nos determina a adotar este critério – afirma mais diante – é a previsão de que os acontecimentos transcorrerão cada vez mais rápido e que se nos sujeitamos estas estruturas a uma política demasiado fechada, isto, traduzido em termos operativos, começa a ser antifuncional e, em última instância, também antidemocrático, porque a democracia tem que funcionar no campo em que se está atuando concretamente.

“Porém existe outra razão muito importante que é a necessidade de crescer. Ante uma situação que começa a mudar, o aparato antigo de quadros começa a ser um freio pelo problema da sujeição formal a estruturas pré-fixadas de antemão. Teríamos que começar por fazer uma redistribuição dos quadros. A melhor maneira de crescer é que as estruturas de direção destas áreas surjam por si mesmas, porém para que possam fortalecer-se como tais e haja um crescimento real, o primeiro a fazer é dar-lhes autonomia. Se não contam com isso não podem desenvolver-se como núcleos de direção. E se lhes dá autonomia há que aceitar uma margem de erro e retificação, para conduzi-los sobre a base de diretrizes a concepções e não de políticas específicas, uma vez que são eles que devem as traçar e executar. Esta necessidade de aumentar a quantidade de quadros tem um duplo aspecto: primeiro, deixar que se desenvolvam novos quadros e organizá-los; segundo, ir rompendo com o formalismo para permitir a estes quadros que possam ir se integrando a vanguarda de maneira mais acelerada que nas etapas anteriores”[37].

Para que a vanguarda seja capaz de cumprir seu papel, potencializando e dirigindo a energia das organizações, necessita ser capaz de expandir no interior delas a sua linha tática. Isto implica que esta linha tenha sido previamente assimilada por todos os militantes. Porém, não apenas se requer que estes estejam solidamente coesionados sob uma direção política única para que atuem para o exterior como membros reais da vontade coletiva; também é necessário que sejam capazes de assimilar com grande rapidez toda mudança nas orientações políticas, que em situações de ascenso revolucionário geralmente mudam com grande velocidade.

Seria interessante trocar experiências acerca de qual tem sido a estrutura que se mostra mais eficaz no exercício do papel de vanguarda sob as condições atuais da América Latina.

***

Lista de abreviaturas

 

PS                          Partido Socialista de Chile (Chile)

BPR                      Bloque Popular Revolucionario (El salvador)

CGSB                    Coordinadora Guerillera Simón Bolivar (Colômbia)

Convergência (El Salvador)

CUC                       Comité de Unidad Campesina (Guatemala)

EGP                      Ejército Guerrillero de los Pobres (Guatemala)

ELN                      Ejército de Liberación Nacional (Colômbia)

EPL                       Ejército Popular de Liberación (Colômbia)

ERP                      Ejército Revolucionario Del Pueblo (El Salvador)

FARC                    Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (Colômbia)

FDR                      Frente Democrático Revolucionario (El Salvador)

FMLN                   Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (El Salvador)

FPL                       Fuerzas Populares de Liberación (El Salvador)

FSLN                    Frente Sandinista de Libertación Nacional (Nicarágua)

M19                      Movimiento 19 de abril (Colômbia)

M267                   Movimiento 26 de Julio (Cuba)

MLNT                  Movimiento de Liberación Nacional Tupamaros ou Tupamaros (Uruguai)

Montoneros (Argentina)

MPU                     Movimiento Pueblo Unido (Nicarágua)

PCdeC (ML)      Partido Comunista de Colombia Marxista Leninista (Colômbia)

PCA                        Partido Comunista de la Argentina

PCC                       Partido Comunista Colombiano (Colômbia)

PCS                       Partido Comunista Salvadoreño (El Salvador)

PT                         Partido dos Trabalhadores (Brasil)

RN                         Resistencia Nacional (El Salvador)

UP                         Unidad Popular (Chile)

UP                         Unión Patrótica (Colômbia)

***

Referências bibliográficas:

HARNECKER, Marta. ELN: unidad que multiplica. 3. ed. Equador: Quimera Ediciones, 1988.

HARNECKER, Marta. Che: vigência y convocatória. El Salvador: Editorial Sistema Venceremos, 1989.

HARNECKER, Marta. Ideas nuevas para tiempos nuevos: entrevistas a los cinco miembros de la Comandancia General del FMLN – Schafik Jorge Handal, Fermán Cienfuegos, Roberto Roca, Leonel González y Joaquín Villalobos sobre la situación de dicha organización, las etapas de la guerra, el concepto de vanguardia y el proyecto socialista. Chile: Ediciones. Biblioteca Popular, 1991.

[1]O comandante Fernán Cienfuegos conta que foi Lil Milagros, uma dirigente do ERP proveniente do setor cristão, quem teria proposto esta ideia em 1972. Segundo ela, era necessário construir uma vanguarda, mas ligada à conjuntura, que tivesse uma estratégia, uma linha, um instrumental científico, quer dizer, um arsenal integral. Ele aceita que, em sentido estrito, falar de vanguarda de conjuntura seria uma tautologia, mas considera o conceito útil porque “facilita a aceitação de uma direção compartilhada com outras forças que estão inseridas numa conjuntura dada, e que seriam marginalizadas por alguns casos se tratasse de integrá-las aos que entendem por vanguarda” (CIENFUEGOS, Férnan. Entrevista inédita à Marta Harnecker e Fauné. Fev. 1989).

[2] Gilberto Vieira fala da existência, na Colômbia, de “várias vanguardas” em entrevista à Marta Harnecker: Combinación de todas las formas de lucha (oct. 1988) Ediciones Suramérica, Bogotá, 1989, p. 57. Bernardo Jamillo, presidente da União Patriótica colombiana, reconhece também o papel de vanguarda em várias forças políticas. Ver: Marta Harnecker. Entrevista com la nueva izquierda, pp. 59-60. Sabemos que a esta posição também chegaram o PCC(M-L) e o ELN, como veremos adiante. Compartilham também desta ideia Rubén Zamora e Guilhermo Ungo, membros do comando Salvadorenho, além do Partido Comunista da Argentina e muitos outros.

[3]Esta entrevista foi também publicada em dois folhetos da coleção Biblioteca Popular: ELN: primeira historia e ELN: unidad que multiplica.

[4]Narciso Isa Conde, conversación con Marta Harnecker en diciembre de 1989.

[5]Sobre as causas desta pluralidade dos partidos de esquerda, ver a síntese elaborada sobre o tema “Vanguardia, Unidad y Alianzas” apresentada ao Seminário de Manágua, realizado em 1988, e incluída em Harnecker (1989, p. 7-49).

[6]Narciso Isa Conde, em conversa já citada.

[7]Guillermo Ungo, entrevista inédita realizada por Marta Harnecker e María Angélica Fauné em setembro de 1988.

[8] Joaquín Villalobos. Construir um nuevo tipo de vanguardia, entrevista realizada por Marta Harnecker em julho de 1989. Folheto da Biblioteca Popular. Confira entrevista concedida por Joaquín Villalobos à autora, publicada em HARNECKER (1991).

[9] Facundo Guardado. Métodos corretos para movilizar a las masas.

[10] Confira entrevista concedida por Joaquín Villalobos à autora, publicada em HARNECKER (1991).

[11] Deve-se esclarecer, não obstante, que Almeyda está pensando em partidos e movimentos políticos e não nos novos sujeitos sociais da revolução.

[12]Clodomiro Almeyda. Reflexiones sobre el processo de constituicion de las vanguardas em la revolucion latinoamericana, Comunicação apresentada apresentada na Conferência Teórica Internacional de abril de 1982 em Havana. Ver nos anais do evento, pp. 73-74.

[13]Rubén Zamora, entrevista inédita com Marta Harnecker e Maria Angélica Fauné, julho de 1988.

[14] Op. Cit.

[15]Confira entrevista concedida por Joaquín Villalobos à autora em Harnecker (1991).

[16] Roberto Roca. Conducción unitaria y estrategia regional, entrevista realizada por Marta Harnecker e María Angélica Fauné. Julho de 1989, em preparação. “A busca de acordos bilaterais constitui um excelente caminho para superar as desavenças que sempre surgem em matéria de propaganda, de arrecadação de recursos, em relação ao trabalho de massas, o controle territorial de alguma frente, enfim, em todos os campos do fazer político, militar, diplomático”

[17] Referências as cinco organização que formavam o FNLM.

[18] Op. Cit

[19] Bernardo Jaramillo, entrevista já citada.

[20] Ibid.

[21] Marta Harnecker esclarece que os conceitos utilizados nesta seção serão ilustrados com maior amplitude no capítulo X do livro e na parte da obra que se refere ao segundo momento na construção da vanguarda. Para ter acesso ao livro completo e em sua versão original, em espanhol acessar: <http://www.rebelion.org/docs/92106.pdf>> Último acesso: 30 de abril de 2015.

[22] Nelson Gutiérrez. Notas sobre el tema de la vanguardia.

[23] Opt. Cit.

[24]  “Devemos ampliar os quadros de nosso exército, retirá-los do regime de paz e os por em estado de guerra, mobilizar os reservistas, chamar de novo sob as armas aos que se encontrem desfrutando de licença, formar novos corpos auxiliares, unidades e serviços – afirma Lênin em fevereiro de 1905, poucas semanas depois que estalou a primeira revolução russa. “Não podemos esquecer que na guerra é necessário e inevitável reforçar os contingentes com recrutas pouco instruídos, substituir na marcha dos acontecimentos aos oficiais por soldados rasos, acelerar e simplificar a ascensão de soldados e oficiais”, e, logo, continua: “Falando sem metáforas: devemos aumentar consideravelmente os efetivos de todas as organizações do partido e de todas as organizações afins a este, para poder marchar em certa medida ao ritmo da torrente de energia revolucionária do povo que centuplicou seu vigor. [“…] Recordem que cada demora imputável a nós nestes assuntos favorece aos inimigos da social-democracia, pois os novos riachos buscam com impaciência seu caminho, e se não encontram um canal social-democrata se precipitam em outro que não este” (Lênin, Nuevas tareas y nuevas fuerzas, 23 feb.1905, t.8, pp.223-224.)

[25] “É preciso deslocar para o centro de gravidade, do adestramento pacífico às ações de luta. Devemos recrutar com maio audácia, rapidez e amplitude de critério a jovens combatentes para todas e cada uma de nossas organizações. […] Com este fim, é necessário criar, sem perder nem um minuto, centenas de novas organizações. Sim, digo centenas, sem incorrer em nenhum exagero, e não me digam que já é “demasiado tarde” para encarar um trabalho de organização tão extenso. Não, nunca é demasiado tarde para se organizar. Devemos utilizar a liberdade que conquistamos legalmente, e a liberdade de que nos apoderamos apesar da lei para multiplicar e fortalecer as diferentes organizações do partido. […] Se não sabemos mostrar audácia e espírito de iniciativa na criação de novas organizações teremos que renunciar as vãs pretensões de ser vanguarda” (Lênin, Op.cit. p.225.)

[26] “Milhares de círculos surgem agora por todas as partes, sem intervenção nossa, sem programas nem objetivos definidos, simplesmente ao calor dos acontecimentos. Os social-democratas devem se propor como tarefa estabelecer e afiançar relações diretas com o maior número possível destes círculos, ajudá-los, ilustrá-los com seus conhecimentos e experiência, estimular-los com sua iniciativa revolucionária. Todos estes círculos, salvo os que conscientemente se mantenham a margem da social-democracia, devem ingressar em forma direta a nosso partido ou vincular-se a ele. No segundo caso, não devemos exigir-lhes que aceitem nosso programa, nem que se submetam a relações organizativas obrigatórias; basta com o simples sentimento de protesto, com a mera simpatia pela causa social-democrata revolucionária internacional, para que estes círculos de simpatizantes, se os social-democratas influem energicamente sobre eles, se convertam, sob a pressão dos acontecimentos, primeiro em auxiliares democráticos e depois em membros convencidos de nosso partido” (Lênin, Op.cit. pp.225-226.)

[27] Lênin. La bancarrota de la II Internacional (may.-jun. 1915), t.22, p.347.

[28] Schafik Handal. El Salvador: Partido Comunista y guerra revolucionaria, pp.86-93.

[29] Fermán Cienfuegos, entrevista já citada.

[30] Lênin é extremamente drástico a respeito: “É necessário passar à organização revolucionária, o que exige uma situação histórica modificada, o reclama a época das ações revolucionárias do proletariado; porém este trânsito apenas pode efetuar-se passando por cima dos velhos dirigentes, dos que sufocaram essa energia revolucionária; passando por cima do velho partido, por meio de sua destruição” (La bancarrota…, t.22, p.349.)

[31] Op.cit. p.350

[32] Lênin. Posición de principios respecto a la guerra (dic. 1916), t.24, p.163.

[33] Antonio Gramsci. Maquiavelo y Lenin, pp.99-100.

[34] Unidade de medida russa. [N.T]

[35] Lênin. La bancarrota de la II Internacional (may.-jun. 1915), t.22, p.349-350.

[36]Sobre este tema ver: Georg Lukács. Observaciones metodológicas sobre el problema de organización, em Cuadernos de Pasado y Presente, n. 12, Siglo XXI, México, 1976, p.122-131.

[37] Joaquín Villalobos, entrevista já citada.

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Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

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