(...) Há duas classes de nacionalismo: nacionalismo revolucionário e nacionalismo reacionário. O nacionalismo revolucionário está, em primeiro lugar, dependente de uma revolução popular cujo fim último é que o povo esteja no poder. (...)

Huey P. Newton*

Há duas classes de nacionalismo: nacionalismo revolucionário e nacionalismo reacionário. O nacionalismo revolucionário está, em primeiro lugar, dependente de uma revolução popular cujo fim último é que o povo esteja no poder. Além do mais, para ser um nacionalista revolucionário, por necessidade, há que ser socialista. Se você é um nacionalista reacionário, você não é socialista e, logo, o seu fim último é a opressão do povo.

O nacionalismo cultural – ou “nacionalismo de lombo de porco” – como eu o chamo – é basicamente um problema de possuir uma perspectiva política equivocada. Parece ser uma reação ao invés de responder a opressão política. Os nacionalistas culturais se definem por uma volta a velha cultura africana para, desse modo, ganhar sua identidade e liberdade. Em outras palavras, eles sentem que a cultura africana automaticamente lhes dará a liberdade política.

Muitas vezes os nacionalistas culturais seguem a linha dos nacionalistas reacionários. Papa Doc [1907-1971], no Haiti, é um excelente exemplo de nacionalismo reacionário. Oprime o povo ao mesmo tempo em que promove a cultura africana.(…) Simplesmente expulsou os racistas e os substituiu pessoalmente convertendo-se ele no opressor. Muitos nacionalistas neste país parecem desejar os mesmos fins. O Partido dos Panteras Negras, que é um grupo revolucionário de gente negra, é consciente que temos que ter uma identidade. Temos que dar conta de nossa herança negra para nos dar força para nos mover e avançar. Cremos que a cultura por si mesma não nos libertará. Vamos necessitar de esforços muitos mais duros.

Um bom exemplo de nacionalismo revolucionário foi a revolução na Argélia quando [Ahmed] Ben Bella [1916-2012] chegou ao poder. Os franceses foram expulsos, porém foi uma revolução popular porque o povo terminou no poder. Os líderes que chegaram ao poder não estavam interessados em buscar seu próprio benefício explorando ao povo e mantendo-o em um estado de escravidão. Nacionalizaram a indústria e seus benefícios foram para a comunidade. Isso é do que se trata o socialismo, de forma resumida. Os representantes populares estão no comando estritamente pelo consentimento no povo. A riqueza do país está controlada pelo povo e é ele o consultado sobre todas as modificações na indústria que vierem a ocorrer.

O Partido dos Panteras Negras é um grupo nacionalista revolucionário e vemos uma grande contradição entre o capitalismo neste país e nossos interesses. Nos demos conta que este país chegou a ser muito rico durante a escravidão e a escravidão é capitalismo extremo. Temos dois inimigos para lutar: o capitalismo e o racismo.

Entrevista realizada pelo “The Movement” em 1968.

*Huey Percy Newton (1942 –1989) foi um revolucionário norte-americano, co-fundador e líder inspirador do Partido dos Panteras Negras, uma organização política negra voltada para a luta pela igualdade racial nos Estados Unidos, fundada em 1966 na Califórnia.

Traduzido do Espanhol por Fábio Nogueira

Fonte: http://creandopueblo.files.wordpress.com/2011/08/entrevistaahueypnewton.pdf

O trecho acima foi traduzido em 2013. Posteriormente, a entrevista na íntegra foi traduzida e divulgada pela Nova Cultura.

Quem quiser ter acesso a entrevista completa acessar: https://www.novacultura.info/post/2021/10/05/huey-newton-fala-ao-the-movement-sobre-o-partido-dos-panteras-negras

Compartilhe!

Assuntos relacionados

Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

últimas

Instagram
Twitter
YouTube
WhatsApp
Facebook