O Setorial de negros e negras do PSOL vem a público manifestar repúdio aos atos […]

O Setorial de negros e negras do PSOL vem a público manifestar repúdio aos atos contínuos de extermínio da população negra praticados pela Polícia Militar do Estado da Bahia. A Bahia é um dos 5 Estados onde a Polícia Militar mais matou durante a Pandemia, sendo que 97% das vítimas são negras. Segundo o Monitor da Violência, em números absolutos, a Bahia foi o segundo estado do país na quantidade de mortes causadas por policias, em 2020, ficando atrás somente do Rio de Janeiro.

 

A naturalização dos homicídios praticados pela PM/BA contra a população negra, por razões de legalidade e de justiça, não pode ser uma opção para a política de segurança pública, como tem sido no governo Rui Costa. O silêncio do governador do estado da Bahia frente as mortes de negros e negras demonstra que o mesmo aquiesce com as ações violentas da corporação e apontam que racismo que estrutura o Estado Brasileiro é, à margem de qualquer dúvida, estruturador dos pensamentos e ações políticas da gestão Rui Costa.

Na última sexta-feira, 04/06, duas mulheres, Maria Célia de Santana e Viviane Soares, foram assassinadas pela PM/BA, no Bairro do Curuzu, marcadamente negro e famoso por abrigar um dos maiores movimentos culturais de combate ao racismo, o Bloco Afro Ilê Aiyê. A determinação da PM/BA em ceifar vidas negras em bairros periféricos não se reproduz quando esta mesma corporação se faz presente em bairros habitados pela classe média alta, com população esmagadoramente branca. As ações violentas e letais da PM/BA têm destinatários certos: negros e negras das periferias.

Os casos de violência policial contra a população negra se amontoam e seguem sem respostas por parte do governo do estado. O caso do garoto Joel Conceição Castro, morto pela Polícia Militar da Bahia aos 10 anos de idade, o garoto Railan sete anos baleado enquanto jogava bola no Curuzú , Jucilene grávida baleada pela PM perdeu o bebê e ficou em coma, tem a complacência da gestão estadual para que os assassinos sigam impunes, mais de 10 anos depois da prática do crime. A chacina de 12 pessoas negras, com idade entre 15 e 28 anos, no bairro do Cabula, em Salvador, foi cometida por 9 policiais militares, no ano de 2015. Os responsáveis seguem impunes e de farda, afrontando o direito à vida da população baiana. Casos de racismo religioso, como o cometido contra a Yalorixá Bernadete Souza, que, quando incorporada por Oxóssi, foi colocada por policial militar sob um formigueiro com o pretexto de retirar o “satanás” do corpo da sacerdotiza, seguem impunes.

Não há espaço para discursos contraditórios que pregam salvar vidas por meio da oferta de vacinas contra a COVID-19, o que é entendido como ação fundamental no contexto de pandemia, mas que não medem esforços para exterminá-las por meio da violência letal da PM. Não há ambiente democrático onde caiba tanto descaso com as vidas negras e em que, todos os dias, pretos e pretas sejam exterminados(as) por um Poder Público e por uma Política de Segurança Pública que deveriam lhes garantir o direito à vida, ao invés de retirá-lo de forma criminosa.

Com estas razões, o Setorial de Negras e Negros do PSOL repudia as ações de extermínio da população negra praticadas pela PM/BA, bem como o silêncio e o descaso do governador Rui Costa com aqueles e aquelas que compõe mais de 80% da população baiana – o povo negro deste estado – e exige que a sociedade civil e as famílias das vítimas sejam ouvidas, assim como, os responsáveis punidos e as operações paralisadas durante a pandemia.

Salvador, 7 de junho de 2021.

Setorial Estadual de Negras e Negros do PSOL Bahia

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Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em Sociologia pela USP (2015), possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2002) e mestrado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (2009). Durante seu doutorado, foi Pesquisador Colaborador Visitante da Universidade de Princeton e Pesquisador do Museu Nacional José Martí / Universidade de Havana. Desenvolve pesquisas nas áreas de Teorias Críticas e Negritude e é membro do Grupo de Pesquisa CELACC/USP. É autor de Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015).

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